quinta-feira, outubro 03, 2002

Pra quem acha que jornalista não pode ter opinião política...

CARTA CAPITAL ESCOLHE LULA
Às favas a tradição da imprensa brasileira: nesta hora a gente toma partido. Como os jornais americanos


Por Mino Carta

"O modelo? Sempre americano. Já foi europeu, sobretudo francês, deixou de ser há muito tempo. Mas a cópia dos Estados Unidos é de má qualidade. No jornalismo, por exemplo.

Cláudio Abramo, melhor jornalista brasileiro da segunda metade do século passado, chamava a atenção para a tentativa, frustrada e frustrante, de perseguir a imparcialidade, a qual seria o primeiro e mais importante alvo da imprensa americana.

A pretensão da imparcialidade nas nossas latitudes é, em princípio, tão utópica quanto a da objetividade. Em todas as longitudes. Objetiva só mesmo a máquina, quando funciona. O homem jornalista é subjetivo até no momento de colocar uma vírgula no meio do período. Do profissional da comunicação tem é de se exigir honestidade.

Na mídia nativa, a alegada busca da imparcialidade e da objetividade serve exclusivamente como adubo da hipocrisia. Tanto mais, em tempos de campanha eleitoral. Jornais, revistas, meios de comunicação em geral, apóiam o poder pelo simples fato de que fazem parte dele, são seu instrumento. Ou por outra, apóiam a si próprios. Sem qualquer preocupação quanto à honestidade.

A hipocrisia, no entanto, não tem limites. Jornais, revistas, meios de comunicação em geral, com a exceção de O Estado de S. Paulo, evitam declarar abertamente a sua preferência pelo candidato do poder, embora o sustentem em todas as páginas, e jamais de forma objetiva, sem contar os golpes baixos desferidos contra os candidatos da oposição. E a imparcialidade? Que se moa.

O modelo americano no caso está sendo traído. Quando das eleições, os jornais dos EUA abrem o jogo e tomam partido, sem retórica e sem subterfúgios. Ainda assim, se esforçam para ser fiéis ao compromisso da imparcialidade e freqüentemente conseguem.

CartaCapital manda às favas a tradição verde-amarela e declara sua escolha pela candidatura Lula. E explica que enxerga em Lula a liderança mais adequada ao momento. Ele representa a chance de mudar a política econômica que nos conduziu ao desastre. Tem autoridade para gerir tensões sociais crescentes. É o negociador adequado nas cortes internacionais, onde goza de maior prestígio do que gostaria quem o ataca e o denigre.

O acima assinado recorda outra época, em que não faltava quem apontasse para a necessidade de um gerente para a Presidência. Um administrador competente. Um técnico refinado. Talvez tenha chegado o momento de um ex-líder sindical, que se caracterizou não somente pela defesa eficaz dos interesses dos seus comandados, mas também dos espíritos democráticos humilhados pela ditadura militar. Que conhecia a hora da batalha e a hora da negociação. Que podia inflamar e podia moderar. E que continua fiel aos seus ideais.

Em entrevista publicada pela Folha de S.Paulo nesta semana, o ex-presidente José Sarney reconhece que a suprema magistratura do País sempre foi ocupada por representantes do capital. Trata-se de uma confissão. Nada de errado, diz Sarney, se elegermos agora, pela primeira vez, um representante do trabalho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário