Minha tia transcreveu "A Louca de Albano", poesia que minha mãe contava pra mim e minhas irmãs quando éramos crianças e que aprenderam com o pai delas (meu avô Elesbão, que infelizmente não chegamos a conhecer). Apesar de sanguinolenta a gente adorava essa história e sempre pedia pra ela repetir. Pedi pra transcreverem pois uma vez a citei no blog e volta e meia recebo mensagens de pessoas que chegaram até aqui pelo Google pedindo esse texto. Pois aqui está! ;-)
- Anda cá, meu filho, escuta: És amigo de sua mãe?
- Oh, minha mãe, que pergunta?
- Basta, meu Paulo, pois bem. Vai ver a velha Vicenza o amor que o filho lhe tem. Faz hoje 20 anos que teu pai morreu a golpe deste ferro, para meu mal e eu, a vir vingá-lo, fiz uma jura fatal...
- Uma jura? Mãe santíssima! Oh, minha mãe, o que jurou?
- Eu jurei por este sangue, que em ferrugem se tornou, que tu Paulo matarias, quem teu pai matou.
- E matas, meu filho?
- Mato.
- Matas, seja quem for?
- Mato.
- Ainda que esta vingança lhe roube do seio o amor?
– Mato.
- Tome este ferro, é Ricardo o matador.
- Ricardo, o pai de Maria? Oh, minha mãe, perdoai...
- Pela amante o pai esquece, filho ingrato, parte e vai, cumpre a jura ou sê maldito se não vingares a teu pai.
Nesta noite, tinto em sangue, com os cabelos no ar, o assassino de Ricardo, foi aos pés da mãe prostar o punhal com que jurara, do pai a morte vingar.
Riu-se a velha de contente e abraçou o vingador, mas que de súbito aparece na porta uma estátua de dor:
- Paulo, meu Paulo, perdi meu pai não vês? As lágrimas que aqui derramo assistiram ao triste fim. Quis falar-me e já não pode, com os olhos fixos em mim, expirou... "Vingança eterna". Tu vingas, meu Paulo, sim?
- Vingo, Maria, sossega, eu sei quem teu pai matou, vai morrer com o mesmo ferro que a pouco o transpassou.
Assim disse e a punhalada no próprio peito cravou...
Foge a moça espavorida, deixa Albano sem parar, chega a Roma no outro dia, por toda parte a gritar:
- "Quem me mata por piedade, quem me acaba de matar?"
E assim vagou três dias, sendo que no quarto enlouqueceu, quando passa o viajante, quando passa o Coliseu, vê a triste às gargalhadas, vingança pedindo a Deus...
- Ha, ha, ha, ha, ha, ha, ha...
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ResponderExcluirEstou encantada,a anos procuro por essa poesia,que ouvi de uma colega do ginasial la pelos anos cinquenta.Chamava-se Eliane Prates.Com algumas diferenças,assim:Corre a louca esbaforida pelo albano e sem sessar gritando a todos que passam.Quem me mata,quem me mata,quem e que vem me matar?
ResponderExcluirAdorei obrigada.Agora vou atras de outra que a muito procuro."Moleque bacurau."e do livro "A Nau da vingança". Será que alguém conhece???
ResponderExcluirEncontraste o poema "Moleque Bacurau"? Eu também tenho procurado... Se achar me envie...
ExcluirOlá!! Gostaria se poder receber também esse poema do "Moleque Bacurau",
Excluirde Silvio Moureaux! por favor, me envie, se vc. já tiver,pois estou precisando trabalhar com adolescentes em uma congrregação evangélica. Obrigada
Meu pai, poeta Benjamin Batista de Macedo, declamava este poema para nós em plena mesa, após o jantar e o fazia com a dramaticidade que o poema pede. No YouTube no meu canal, publiquei Benjamin Batista entrevista seu pai e ali imortalizo sua voz numa gravação de 1981.Sugiro que visitem e oucam a voz e alma de um poeta de verdade. Meu saudoso pai que partiu para o infinito no ano seguinte...
ExcluirQue maravilha ter encontrado esta poesia que aprendi no meu tempo de Normalista nos anos 60 com alguma diferenças. Fiquei feliz equem me passou foi uma adolescente do Ginásio.
ResponderExcluirQue grata surprese depois de quarenta anos me vem a tona uma poesia que meu .gostava e tambem eu de ouvi-la . Nostalgicamente ainda consigo sintr um gontinho alegre na alma . Tony
ResponderExcluiresta poesia me lembra meu pai pois ele sabia varias posia mas esta ele declamava diariamente para todoa a familia ela morreu com 90 anos de idade e nunca errou uma palavra . a que saudade tenho dele.
ResponderExcluirestanislau
Também ouvi minha mãe declamar esta poesia nas festas da minha escola primária. Lá se vão 50 anos. Várias vezes procurei por ela na net para saber a autoria, e não encontrei nenhuma citação. Encontrei aqui na íntegra, como minha mãe declamava, e ainda declama. Adorei.
ResponderExcluirEssa poesia é dos meus áreos tempos da juventude.
ExcluirAmei encontra-la!!!!
Quando estava no colegial fazia jogral e uma das poesias que apresentávamos era Moleque Bacurau, mas só me lembro do nome,não sei de quem era. Mas hoje, pra minha felicidade um ex-colega desta época me localizou pelo facebook e vou saber dele a autoria e se ele pode me mandar o poema.E vou ficar muito feliz de poder lhe enviar.
ResponderExcluirAbraços,
Dalva
Olá !! eu tenho a poesia Moleque Bacurau, de Silvio Moureaux!! se ainda quiserem me enviem msg para leila@tavola.com.br que eu mando digitalizada; tenho escrita no meu caderno de Declamação.... caramba! tem tanto tempo! abs, Leila.
ResponderExcluirEu cresci com minha mãe Recitando esta Poesia, nos ensinou e em todas festas de familia estavamos nós DECLAMANDO OU APRESENTANDO EM FORMA DE PEÇA TEATRAL.
ResponderExcluirQue alegria!!Cresci com meu avô recitando está poesia em casa sempre, minha mãe tbm recitava e me ensinava, eu lembrava de algumas frases. Já procurei muito, estou muito feliz por ter encontrado .
ResponderExcluirMinha querida mãe declamava esta poesia ou poema! E o fazia com intensa emoção;e nos deixava emocionados!quanta saudades desta época maravilhosa! excelente resgate; parabéns.
ResponderExcluirMoleque Bacurau
ResponderExcluirDe Silvio Moreaux
O moleque bacurau mora no morro,
Num barraco pequeno maltratado
Onde a chuva penetra pelas frestas
Do misérrimo teto esburacado.
Não tem cama prá dormir, dorme no chão.
Seu almoço! Seu jantar! Côdeas de pão.
E por fim usa sempre umas calças com remendos de mil cores,
Umas calças que parecem fantasias de arlequim.
O moleque Bacurau costuma ir à praça grande
Para ver as brincadeiras dos meninos de família;
Lá estão eles, os filhos dos doutores
Brincando de esconder.
Fiau, fiau, moleque Bacurau que estás vendo de longe a criançada tão feliz!
Os meninos são brancos e vieram numas cestas bonitas de Paris.
O moleque Bacurau, pobre beiçola,
Veio dormindo no sangue dos escravos dos cafundós de Angola.
Baleio, bala, chocolate, olha a cocada!
Os meninos compram doces;
Bacurau não compra nada, pois não tem nem um tostão!
Chi! Caiu do tabuleir!
Vamos ver!
É rapadura!
Záz! Apanha, leva à boca …
Ai meu Deus! Que gostosura
A noite vem vindo
Bacurau sobe a ladeira com saudade dos meninos que nem sabem que ele existe.
Ai aquela estrelinha luzindo prateada no alto do céu!
Bacurau tinha vontade de morar naquela estrelinha! …
Como é que ela fica presa?
Quem a vai acender de noite e apagar de dia?
Coitadinho do moleque Bacurau que ignora por completo a astronomia!
Já faz oito dias que ele não vai à praça ver a criançada brincar.
Que moleza no corpo!
Que tosse cacete!
Que mãos tão geladas!
Que frio meu Deus!
Xi! Lá vai o corpo do moleque Bacurau, descendo a ladeira numa caixa toda preta! …
O moleque Bacurau está importante! Estão tirando o chapéu prá ele!
Ai lindo menino branquinho, branquinho! …
Nós vamos lá embaixo?
Nós vamos à praça com os outros meninos branquinhos brincar?
Me sinto tão leve!
Não estou mais doente!
Menino branquinho de onde tu vens?
Que coisa engraçada! Não sou mais pretinho! …
Ué minha gente, sou branco também!
Já sei! Já compreendo!
Meu corpo morreu! Sou a alma do pobre menino que tanto sofreu!
Menino branquinho!
Já sei quem tu és!
Vieste buscar-me pro Reino da Luz.
Oh! Graças, mil graças, me leva contigo,
Me leva contigo, Menino Jesus.
Conto sempre essa história ao meus filhos,só quem me contou foi minha adorada mãe que me contou que por sua vez a minha avó ( mãe dela tinha contado)todas duas já faleceram!! E não me lembrava do final!! Agora achei aqui e posso contar aos meus filhos e netos eles repassarem adiante!!
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